Playtac

Focuslife

Colunistas

Home / Focuslife / COLUNISTAS Voltar

Aprendendo a Sentir
22 de julho de 2013

"Por mais voltas que o mundo dê, um dia todos nós iremos nos encontrar em algum ponto. Um ponto pacífico, onde estaremos falando a mesma língua, bebendo o mesmo vinho, contando nossas histórias e rindo, um riso leve e sincero. Assim, estaremos prontos para percorrer juntos este longo caminho; em que simplesmente falamos de nossos dias, vendo o futuro com olhos livres".

Charles Chaplin

Há mais de um ano numa situação crítica. Quando o mundo parecia desabar sobre a minha loura cabeça. E que bem passada dos 19 anos intentei meu primeiro porre. Descobri duas coisas importantíssimas na minha vida. O valor da confiança e a importância de um olhar amigo.

Em mais um doloroso processo de separação ou divórcio como queiram os civilistas de plantão. Decidi sair para arejar a cuca. Mas puxa vida como sair sozinha. Depois de 13 anos casada. Puxa seria muito atrevimento. Então decidi ligar para uma amiga - a Val. Mesmo sem jeito, pois era uma amizade recente e não queria abusar da boa vontade dela.

Marcamos em um bar que eu adoro. Numa famosa Avenida Curitibana. Cheguei cedo e sentei sozinha esperando. Resolvi tomar uma bebida. Mas num Bar Mexicano ou cerveja mexicana ou Tequila. Sim? Pois bem. Logo a Val chegou e começamos a papear. Inúmeros assuntos transitaram na mesa. Entre eles alguns copos de marguerita para afogar as lágrimas.

Tenho apreço pelas pessoas que aturam “criaturas” como eu. Afinal vamos combinar que uma pessoa apaixonada ou uma divorciada queimam a paciência de qualquer um. E vamos nós papeando, comendo “nachos” e falando da vida. E certamente eu reclamava do fato de estar sozinha e de não gostar disso.

O destino caprichoso então coloca uma mesa repleta de rapazes na mesa ao lado. E a troca de olhares começa. Certamente eu não imaginava que havia algum assunto comigo, pois a estima estava em 0,5 em 100. Tão logo deixei a coisa fluir, pois queria saber como é a vida de gente normal.

Como num passe de mágica estávamos todos sentados na mesma mesa. E um rapaz metido a galante sentou ao meu lado e elogiou minha maquiagem. Em poucos minutos me contava que era estudante de direito (ufff!!) e que estava livre leve e solto. Fiquei um pouco surpresa, pois não estava interessada em comprar nada além da bebida, naquele dia!

Enfim a conversa ia bem quatro rapazes e duas moças. Quando o jovem mancebo resolve apertar minha perna como se tivesse a intenção de consumir algo mais naquele bar. Sem observar que eu não estava no cardápio de “pratos quentes”. E nesse imediato momento levantei e fui ao banheiro para não dar para cena um ar de tragédia grega.

Lavei o rosto. Tomei um ar. Minha face que não costuma ficar vermelha já estava por voltar ao fúcsia. Duas respiradas e pensei minha nossa senhora da bicicletinha. Vou numa agência de casamentos, vou virar freira ou ficarei ouvindo esse papo que está longe de ser um Shakespeare, visto que mais se aproxima de uma letra de funk.

O espelho continuou mudo e decidi voltar para a mesa pegar minha amiga e cantarolar Cartola no carro. Porém quando cheguei na mesa todos os copos estavam cheios e certamente por mais que eu estivesse fora do circuito noturno – tenho consciência de que seria uma atitude infinitamente desagradável. Mas como sou a rainha dos grandes desfechos algo aconteceria.

O jovem mancebo – que por acaso não era nada bonito me olha e diz se eu não queria terminar a noite de modo mais interessante. Puxa pensei. Só se fosse com uma corda bem grossa apertando o “pescocinho” dele. Então já com a paciência em vias de extinção – ou seja,  saco cheio, levantei e mudei de lugar.

Sentei ao lado de um rapaz de cabelos longos que possuía um semblante mais agradável. Começamos a falar. Ele mostrou ser um rapaz educado e a conversa seguiu de modo agradável e suave. Falamos do trabalho. Das viagens e eu destaquei o meu trabalho, os livros e de alguns infortúnios que me levavam a estar no bar naquele dia... Lógico era notório que não estava muito livre naquele momento. Não era meu metier...

Mas, já era hora da abóbora aparecer no lugar da carruagem e nos despedimos. Antes de sair ele me deu o cartão dele e eu passei o meu. Mas de toda sorte não imaginei encontrá-lo mais. De toda sorte talvez tenha sido a melhor conversa com um rapaz que eu tenha usufruído num bar. Pois as pessoas sempre procuram “sexo” e pouco afeto. Prova disso é que o jovem mancebo ao se despedir de mim disse aos amigos: “essa aí não dá – é feia e sem graça”.

Pensei em responder, em brigar, mas no fundo a conversa com aquele rapaz foi tão agradável que decidi deixar as coisas como estavam. Pois o mundo não dá uma pausa quando estamos tristes. Não há uma trégua para os corações em recuperação. Mas é preciso saber sentir, é necessário extrair das coisas más, momentos bons. E isso não é tão fácil de executar.

O que me deixa tranquila é que dois dias depois esse moço de cabelos longos me ligou e tivemos uma noite magnífica. Jantamos juntos e conversamos sobre nossas vidas de modo profundo e sem reservas. E eu tão acostumada a falar em classe, ministrando minhas aulas. Fiquei surpresa ao perceber que falar sem dar lições faz boas amizades.

Nos despedimos com um forte abraço, pois ele partiria para a sua casa em Redmond e não nos veríamos tão cedo.  No outro dia corri para o aeroporto e me despedi dele. E dei um livro de presente. Não nos vemos há anos, mas essa amizade me ensinou a sentir o que eu já havia esquecido.  A confiança e a credibilidade de que se estivermos sempre com as portas fechadas demais nem o sol poderá iluminar a nossa vida e a escuridão que por vezes encontramos.

Taís Martins

Escritora, MsC, e professora.

Contato:  taisprof@hotmail.com

              focuslife@playtac.com

SIGA 

LITERATURA e POESIA
Os caminhos da imaginação pela Escrita

Deixe seu comentário:

  • Tais Martins

    Como diz o poeta Se todos fossem iguais a você... obrigado Denise... bjs

  • Denise maria mendes

    Com ela por perto, por mais inusitada que seja a situação, tudo pode acontecer... E, acreditem, ela sempre conseguirá extrair o melhor de tudo.