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Clube de Leitura de Jane Austen
10 de outubro de 2014
Filme é de 2007, me indicado pela colega de trabalho, que gosta de corujas, não resisti ao domingo de chuva e fui conferir a indicação. O longa trata da idéia de reunir seis pessoas para ler os seis romances da autora inglesa Jane Austen e debater sobre os mesmos. Cinco mulheres e um homem passam a se reunir uma vez por mês para a discussão sobre cada romance lido no mesmo período de tempo.
O primeiro encontro é desajeitado, não há muitas correlações entre os participantes. Nenhum livro ainda foi lido e as diferenças e desavenças são claras e quase que imediatas. Nada parece promissor.
Após o primeiro mês e o primeiro romance, os encontros começam a fazer mais sentido. Os personagens do filme, um a um, passam a agir e a se identificar com os próprios personagens da Jane Austen. Os personagens do filme não se parecem um com o outro: a idealizadora do clube é a mais velha e foi casada cinco vezes. Outra é recém-divorciada depois de vinte anos de matrimônio. A filha dela é lésbica e é mais uma entre os participantes. Ainda há a que cria cachorros e vive sozinha, além da jovem professora de francês que está com problemas no casamento. O único homem entra no grupo quase que por acaso, quando a criadora de cachorros o convence a participar do clube de leitura, na esperança de juntá-lo à sua amiga recém-divorciada.
A ideia do grupo veio da mulher mais velha em prol da professora de francês. Os demais não veem a ideia de forma empolgante, mas acabam aceitando a ideia. Mês a mês, a vida pessoal de cada um vai sendo exposta durante o filme, assim como a afinidade e amizade que vão se criando a cada encontro.
O mais interessante é ver como cada leitor se aproxima da história dos romances lidos e de seus personagens, associando suas próprias vidas e experiências ao que estão lendo. A cada encontro, mais se percebe o quanto a cultura dos romances aproximam os personagens, cada um à sua maneira.
Independente de ter se lido as obras de Jane Austin ou não, o filme é de fácil compreensão e de entretenimento garantido. O final reserva boas surpresas e uma mudança drástica em um dos personagens secundários. O filme mostra o quanto uma história pode aproximar pessoas de si mesmas e de outras, ainda que sejam tão diferentes. E a mudança de uma das personagens da forma como ocorre, foi para mim, um dos pontos mais altos do filme, uma vez que mostra o poder da cultura sobre o ser humano, frágil e tão ávido da mesma.
Na vida real, participei pela primeira vez de um clube de leitura na Alemanha. Confesso que na época não entendi com muita positividade os encontros semanais de estranhos e conhecidos, em meio à um inverno de menos tantos graus, apenas para a breve leitura de partes de seus livros ou poemas preferidos. No auge de minha dificuldade de adaptação no país, acabei desistindo das leituras.
Hoje, não só pelo filme, acho a ideia do enredo brilhante, pois incita a leitura que tanto precisamos, seja de romance ou do que for. A leitura por si só é sempre um acréscimo, um despertar de uma nova consciência, a possibilidade que damos a nós mesmos de um novo olhar, uma nova história e um novo saber.
Até agora, nunca havia ouvido falar da Jane Austen. E se na Alemanha o clube de leitura não havia conseguido me motivar, o filme veio me dar uma nova chance de releitura da ideia.
Um clube do livro ou de leitura, seja como for denominado, é algo tão positivo que deveria fazer parte de nossa grade curricular. Porque mais do que conhecimento, esta experiência nos promove autoconhecimento e desenvolvimento emocional.
De um jeito ou de outro, vale a pena ler e vale a pena assistir!
CAROLINA VILA NOVA
ESCRITORA E ROTEIRISTA, de Curitiba.
Contato: focuslife@playtac.com
Coluna sobre Arte do CINEMA