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Como nasce um escritor
06 de janeiro de 2014
Após alguns leitores afirmarem que o estilo dos meus textos se assemelhava ao da escritora Martha Medeiros, lá fui eu atrás de seus textos e livros matar a minha curiosidade. Seria mesmo o meu estilo parecido com o de alguém já tão bem sucedida naquilo que mais desejo ser? Comprei o livro “Feliz por nada” e fiquei apaixonada pela forma como a autora expõe suas opiniões. Já era fã incondicional de Clarice Lispector, por sua liberdade de escrever sobre o que quisesse, da forma que quisesse, misturando o que escrevia com o que pensava enquanto criadora de suas histórias. Estilos diferentes, mas com a mesma autonomia, força e liberdade. Gosto nas duas escritoras em primeiro lugar, o respeito que tem a si mesmas, ao escreverem o que sentem vontade. Sinto que como eu, em primeiro lugar, elas sempre escreveram pra si mesmas, numa forma de autolibertação, organização das ideias e emoções.
O livro “Feliz por nada” é uma coleção de crônicas interessantíssimas da escritora, quase todas com cerca de duas páginas cada uma, com assuntos variados, cheios de honestidade, desprendimento e simplicidade. Cativa o leitor.
Confesso que quando comecei a publicar meus textos em sites na internet, temi um pouco a opinião alheia. Os familiares que não gostariam de ler tudo aquilo que eu escrevo (penso), os amigos que não concordariam com certas opiniões e por aí afora. Mas mais importante do que qualquer receio que eu tinha, foi perceber que a cada texto publicado, a cada opinião manifestada, eu reforçava o meu eu. E a cada matéria, mais o resto deixava de ser importante.
Ser escritor não é apenas escrever um texto bonito para os olhos alheios, mas é antes de tudo uma responsabilidade enorme consigo mesmo. Escrever é como publicar a própria alma em pedacinhos, que ao longo do tempo vão se encaixando e expondo o autor na sua mais profunda intimidade. O ser responsável pelo desnudar de seu próprio ser. Expondo medos e desejos a um mundo que a qualquer momento poderá criticá-lo sem dó, nem piedade.
Audácia e coragem para poucos, pois poucos são aqueles que assumem o que realmente pensam e sentem. Se às vezes até para si mesmos, quem o dirá para um público desconhecido?
Se tenho o estilo da talentosa Martha Medeiros, não sei. Grande honra ser comparada a tal. Mas mais importante pra mim, não é o estilo que possuo e nem mesmo o alcance das minhas matérias ao grande público, mas à fidelidade à minha pessoa: o escrever aquilo em que acredito, sem mudar uma vírgula sequer do meu ser.
Hoje, eu sei que o sucesso de um escritor não está só na sua capacidade gramatical ou em seu talento com as palavras. Antes de tudo o sucesso de um escritor está na sua forma de enxergar e viver a vida. Sentimentos intensos, livres e cheios de honestidade. Sofrimentos, traumas, medos, desejos, paixões e por aí vai. Somado à visão sincera que se tem de suas experiências, nascem os textos, pequenas frases, poemas e histórias que tocam o leitor nas afinidades da vida.
Porque no fundo somos todos iguais, frágeis colecionadores de histórias. Ao ler ou escrever, nos identificamos uns com os outros. Seja na dor, seja no riso.
Porque pra cada um o que conta é viver da melhor forma. E como se conta cada uma dessas formas, é que é outra história. Daí nasce o escritor.
CAROLINA VILA NOVA ESCRITORA E ROTEIRISTA, de Curitiba. Contato: focuslife@playtac.com |
Os caminhos da imaginação pela Escrita