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Espetáculos visuais
05 de novembro de 2014
"Dizes que a beleza não é nada? Imagina um hipopótamo com alma de anjo... Sim, ele poderá convencer os outros de sua angelitude - mas que trabalheira! "Mario Quintana
Existe algo no meu peito que não se cala. Palavras divertidas. Nuances de histórias engraçadas e por vezes infindáveis. Palavras que escapam e protegem o meu silêncio interior. Há situações por mim vividas e outras sentidas na pele por alguns amigos. No encantamento do tempo reproduzo-as para olhos curiosos como os meus.
Sou professora há muitos anos. Falante. Sempre fui. Dentro ou fora da sala de aula. O prazer na partilha de sabedorias e novos aprendizados transforma o exercício docente numa aventura humana e com isso vou amealhando histórias dos meus alunos e recontando suas vivências num ciclo de aprendizado interminável e fabuloso.
Destarte algo se alastra na minha alma sutilmente amarga. Um sentimento indócil que nem sempre propalo, mas que não posso deixar de sentir. A crescente falta de caráter das pessoas. Olhos cheios de uma maldade indelével que se escondem em sorrisinhos de escárnio e de desdém como se uma alma fosse merecedora de mais luz e outras destinadas à escuridão.
Transito entre joio e trigo. Afinal não podemos escolher sempre aqueles que ficam em nossas cercanias. Porém é preciso um esforço crescente para manter a alma risonha como uma tarde primaveril. Quando na verdade o desejo imperativo é ser uma tempestade assoladora capaz de limpar corações tão mesquinhos.
Observo com desprezo roupas escolhidas. Sapatos combinando. Sem esquecer o toque de mestre do “abençoado” celular com tecnologias infalíveis, mas utilizados sem atentar para as barreiras do respeito, carinho e cordialidade. Um colega de curso vale infinitamente menos do que o tablet. O Iphone 1, 2, 3 ou 25... ou do famigerado notbook com acesso na rede...
A tecnologia ultrapassou o respeito. Notoriamente, nossa valia é menor do que o carro novo. O vestido repaginado. Ou qualquer modinha que possa distinguir uma alma sem brilho na multidão. Somos então escravos de algo já muito estudado pela aparência e da obediência como propalava Benthan em 1800 – versando sobre um possível contrato.
O ponto de partida do utilitarismo de Bentham encontra-se na sua crítica à teoria do direito natural, que supõe a existência de um "contrato" original pelo qual os súditos devem obediência aos soberanos. Para ele o indivíduo somente possui direitos na medida em que conduz suas ações para o bem da sociedade como um todo.
Mas quem seriam os soberanos da modernidade? Qual seria a valor a ser protegido? Como apontar de modo eficiente o que deve ser mantido e o que deve ser ceifado para reaver o equilíbrio. Ou talvez o mais coerente seria reencontrar um ponto de equilíbrio dentro dessa realidade que nos cerca e por vezes assola.?
Minha concordância pelos escritos de Benthan. O que deve realmente ser procurado é a reconciliação entre o indivíduo e a sociedade. Esses motivos devem ser chamados “bons” na medida em que possam conduzir harmonia entre os interesses individuais e os interesses dos outros, enquanto que “maus” seriam todos aqueles motivos que contrariassem esse objetivo.
O equilíbrio entre os homens precisa ser reestruturado. Pautado especialmente na promoção do princípio de utilidade é a benevolência ou boa vontade. Ver o outro de modo a entender amiúde as suas pequenas necessidades. Afinal a felicidade é algo mais forte quando compartilhado. O egoísmo nos esgota e traz opacidade para as almas.
Não necessitamos de arenas permanentes. Nossos trajes e os signos que incorporamos nos fazem de certo modo escravos. Aquilo que parecemos é também aquilo que representamos. E algumas figuras carecem dessa harmonia. Pessoas bem vestidas e perfumadas. Trazem em suas vestes almas negras e cheias de um orgulho inútil...
Há tantos anos transito em salas de aula. De reuniões. Salões festivos. Passamentos. Batismos. Casamentos. Encontros e desencontros que a vida propicia para todos nós. Outrossim me coloco na posição de observadora. Afinal julgamentos também são falíveis. Penso nas noivas e seus vestidos. Nos bebês e seu mandrião de batismo. Haverá similute?
A respeito dessas questões é de particular importância a análise emocional. Os nossos olhos replicam felicidades e angústias, mas é necessário sopesá-las e saber se transitamos pelos melhores caminhos ou escolhemos as escaladas mais difíceis. Nem sempre corremos uma maratona. É preciso ter a alma leve para comprar um pão francês para o desjejum.
Nossa vaidade é cultivada? Ou é natural de nossa alma a busca incessante por espelhos? Devemos cuidar mais das nossas almas. Afinal mesmo sem visibilidade elas garantem as nossas emoções. Uma lição importante já trazida por Antoine Saint-Exupéry: “só se vê bem com o coração, o essencial é invisível aos olhos”...
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Taís Martins Escritora, MsC, e professora. Contatos: taisprof@hotmail.com focuslife@playtac.com |
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