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Homenagem ao amigo
10 de setembro de 2013

O meu estimado e ranzinza Luiz Augusto King deixará um lago de saudades como aquele de Chácara dos Anjos em Piraí do Sul. Seu mau humor peculiar e seu modo de rir no meio de uma conversa séria certamente são laços que minha alma não poderá jamais apagar. Além dos papos a caminho da “padoca” sobre assuntos intermináveis.

Justamente agora penso como a nossa vida além de efêmera. Acaba perdida em tolices. Quantos encontros especiais deixados para a amanhã. Mesmo sabendo que esse amanhã pode não chegar - nos arriscamos. Infelizmente não haverá um encontro amanhã. O que ficará é um espaço na fotografia de ano novo que nunca podemos suprir...

A memória aguçada pelas emoções traz a sua imagem brincando com o meu pequeno Miguel na famosa Kombi branca. Céus quanta celeuma quando da escolha do veículo familiar, mas era o que desejavas. Dona Cândida sempre apaixonada entendeu a escolha. O John reclamão como sempre disse que era bobagem, mas família é isso concordando e discordando sempre...

O desejo de viver era certamente a sua marca registrada. Uma luta diária pela vida. Enfrentando tormentas. Hemodiálises. Restrições alimentares e físicas. Mas ficava elegante na sua Jaqueta Top Gun. Aquela que o John pegava escondido para paquerar as meninas na escola. Mas bem feito. O amor de verdade só chegou na maturidade com a linda Regiane.

O destino brinca com a nossa galhardice. Pensamos na eternidade. Desconsiderando que somos breves. Não é a idade que nos define, mas as emoções que vivemos. Ainda assim brincamos com o nosso tempo. Permitindo que nosso café para bater papo tenha menor relevância do que um encontro para um abraço.

Nos meus braços ainda estás. Como na última semana que nos encontramos. Pois essa será a única despedida verdadeira que teremos direito, pois creio que tenhas imaginado que eu prefiria lembrar de ti assim. De pé. Respirando. Sentindo aquele tapa nas costas. Que ardia por cinco minutos. Mas é certo que meus modos sempre foram de moleque na sua casa...

Os laços que nos uniam dependiam somente do nosso afeto. Afinal entrei para a família King desde a meninice. E dela nunca saí. Mesmo longe sempre estivemos próximos. Quando eu fugia mais cedo das minhas aulas a sua casa sempre foi um refúgio. Comíamos toda a dispensa. Enquanto rias das minhas piadas loucas e das histórias dos meus namorados fracassados.

Por muitos anos ouvirei a sua voz dizendo: “Menininha você não tem jeito...”. Talvez eu não tenha mesmo, mas pior e ter que recordar isso somente na minha memória, pois no próximo livro eu vou te procurar na plateia. Mesmo sabendo que você não estará lá... Sua morada agora além de Piraí do Sul será o nosso coração combalido.

Coisa sua partir em grande estilo. Imagino sua jaqueta charmosa. Seus cabelos sempre mais longos – um charme inconfundível que o filho fez questão de herdar. Pimposo demais naquela Harley linda. Ou quem sabe na sua imensa Carreta. Onde podias desbravar o mundo com sua fachada de pirata malvado e no fundo um bobo apaixonado pela brava Sra. Maria King.

O amor é confrontante na vida de quem se emociona. Eu devia estar com raiva por tê-lo perdido. Convicta de que seus olhos não se abrem para um novo amanhecer. Outrossim, meu coração avisa que as suas retinas agora devem conhecer luzes mais leves. Longe dos milhares de exames e da esperança de um transplante que nunca chegou. Mas foi esperado até o fim.

A entrevista na famosa televisão global em que mencionas seus sonhos de liberdade. Falas do fato de que as pessoas precisam ter fé. Eu acrescentaria - meu estimado e eterno amigo. As pessoas carecem de bondade e desprendimento, pois quantas dores poderiam ser amenizadas por uma doação de órgãos. Um gesto de infindável bondade.

Uma simples atitude que salva uma vida e uma família. Gostava quando me dizias:  “então Doutora não tem jeito”. Para você não teve meu querido desbravador. Não há lei no país que obrigue a doação de órgãos. Falamos disso em muitos almoços e cafés de final de tarde. Por vezes o direito fica aprisionado a manifestação de “vontade” das pessoas.

Como bem disse meu irmão de alma – My Dear John. Partiste numa manhã de sol. E cada um de nós ainda guarda no calor desse sol um abraço. O seu abraço. Que ficará para um encontro sem hora e dia marcado, mas que certamente vai chegar. A fé do reencontro arrefecerá nossa saudade. Entre flores e lágrimas esperaremos

Um lindo dia meu estimado king. Onde deixaste as dores corporais e descansarás na sua linda Estância dos Anjos. Desprendido de amarras. Quem sabe visitando nossos sonhos, mas livre para uma cena menos dolorosa do que viveste por esses últimos anos. Mas ainda assim cada pessoa que conviveu ao seu lado era capaz de admirar a sua coragem... Quanta coragem...

Sabido que não eras perfeito. E essa era a graça. Quantos puxões de orelha pelo som alto. Ou as conversas durante o jornal. Acabavas por se render a nós e nós a você. The Great King. Grande. Ciumento e reclamão... Nas saudades que nos entregas nesse final de agosto de 2013 não se despede da primavera, mas leva de nós muitas lágrimas e eternas flores...

 

Taís Martins

Escritora, MsC, e professora.

Contato:  taisprof@hotmail.com

               focuslife@playtac.com

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Deixe seu comentário:

  • Maria King

    Somente alguém tão especial como você poderia nos dar a honra de profundos sentimentos expressos em tão linda homenagem.Te amo tanto minha amadaTaís1

  • Tais Martins

    Querido Renan Pechebea Luz. Você é uma alma de luz. obrigado pelo carinho. bjs mil.

  • Tais Matins

    Estimado Hélio Olegário da Silva. ë uma honra ter seus comentários. Muita luz na sua vida. O sucesso também vem do coração. bjs com estima.

  • Andréa Vaz

    Muito show! Emocionante como sempre! bj

  • HELIO OLEGARIO DA SILVA

    Grande, Respeitada e Estimada Professora Tais. Em determinado momento da leitura de seu texto, quando me dei conta, lágrimas escorriam pela minha face, tendo também como motivo a saudade de todas as pessoas que a vida tira sem piedade e aviso prévio, de nosso convívio, notadamente das mais recentes... Mas as lágrimas não são pelos que partiram, são por nós mesmos, pois começamos a sentir prematuramente a saudade e o medo de não sermos capazes de suportara falta que essas pessoas farão em nossas vidas...

  • Renan Pechebea Luz

    Seu coração ainda está fragilizado, esperando um sopro de alegria, vindo das poucas pessoas que te amam de verdade, mas sei que esse sopro logo já vem. Nada que o tempo para amenizar essa dor, pois nem remédios vão curar essa forte dor de perda, apenas os cantos dos pássaros, e a risada de uma criança que ecoa eu seus ouvidos, te fazendo lembrar das partes mais belas de sua infância. E seguindo em frente, seguindo seu mapa da vida.