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O COVARDE
29 de abril de 2013
By Taís Martins
Tenho um imenso prazer em observar as pessoas. Seja no trânsito, no teatro ou eventos sociais. E ao me deparar com algumas cenas – sem legenda – e algumas palavras – sem contexto – concluo que estamos carentes de coragem.
Uma vez conheci um homem. Bonito, gentil e sempre disposto a ajudar. Um dia ao tomarmos um café ele relatava fatos da sua vida. Falando sobre a sua dificuldade de ser feliz por não saber como se desligar das pessoas do seu passado.
Por alguns momentos eu ouvi a sua epopeia. Mas algo ficava desmensurado diante daquele homem tão dócil. Como poderia uma pessoa tão sensível, provocar a ira de familiares, amados e amigos?
Intrigada mas sensibilizada. Acompanhei alguns anos dessa história. Sempre disposta a colaborar. Foram ações judiciais intermináveis – que corromperam amizades antigas. E por outros momentos foram dívidas que não se podiam pagar mesmo com mais de quatro trabalhos.
Trouxe ao seio da minha vida os amores e os desamores. Pois meu coração disposto não estava contaminado pelos medos. Estendi minha mão e minhas habilidades no intuito de propiciar uma verdadeira mudança paradigmática.
E uma nova história foi construída. Aquele rapaz desiludido. Agora recuperado. Cheio de oportunidades e pronto para reconstruir as pontes com o passado. Estruturando novos contextos com o futuro. Era a minha aposta. Mas de toda sorte não se muda uma essência. Podemos mudar a roupa, mas não podemos transformar uma alma.
Com o tempo a humildade perdeu seu contorno e a docilidade deu lugar à prepotência vestida por sorrisos. E com uma habilidade indescritível esse homem apagou a realidade dos meus olhos e de forma fantasiosa imaginei que a felicidade povoava esse novo lar...
Mas são vãs as esperanças daquele que mente. O simples fato de um homem estar de joelhos não significa que ele esteja arrependido. Dura lição aprendida. O simpático rapaz escondia, entre seus dentes, mágoas antigas e desdém por recomeços. Para ele apagar o que já foi era a maneira certa de viver.
Minha forma poética de sentir a vida. E porque não dizer minha forma romanceada de resolver os problemas impuseram que eu insistisse em converter o preto e branco em colorido. Era somente uma questão de misturar as cores. E um pouco de afeto, pimenta e persistência.
Mas qual nada. Depois de tantas lições de amor. Após ofertas de vida. De companheirismo. A sua alma vazia corrompeu a minha. Minhas crenças afetadas me levaram para um mundo paralelo. Onde eu não era eu. Imaginava sonhar quando na verdade vivia um pesadelo.
De toda sorte existe algo em nós que não se apaga. E minha luz interior não se apaga. Ela fica opaca. Sem força, mas não se apaga. Num lusco-fusco decidi que precisava beber o cálice da vida. Era fundamental construir um novo lar. Receber uma nova vida. Desembalsamar o baú de sonhos guardado embaixo da escrivaninha. E foi nesse momento que descobri – a verdade escondida naquele sorriso - aquele que não é capaz de amar um filho já crescido será incapaz de criar uma pessoa que ainda não sabe caminhar. Nesse “minúculo” entendi que aquele que não é capaz de amar seus pais mesmo sem entendê-los. Nunca poderá ser um pai admirável.
Quem abandona seus amores em prol de liberdade é porque nunca mereceu o amor. O covarde é aquele que rouba seus sonhos. É aquele que te leva a crer nas suas verdades repletas de mentiras. Além dos julgamentos, das condenações há o tempo... esse juiz implacável. Que trará novamente a cor e as páginas que semeamos pela vida.
Volto ao mesmo café onde comecei essa história e deixo uma gorjeta para a moça – conhecida de sempre – que me pergunta o que é feito daquele rapaz que sempre andava comigo e que cuidava tão bem de mim. Ao que respondo. Minha querida o é preciso ter coragem para ver além das aparências. Nossos olhos lutam pelas conveniências e as vezes somos covardes por não ter a iniciativa de recomeçar... e mesmo que ela não tenha entendido as minhas palavras eu sabia exatamente o que estava dizendo ao me despedir...
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Taís Martins Escritora, MsC, e professora. Contato: taisprof@hotmail.com Contato: focuslife@playtac.com |
Os caminhos da imaginação pela Escrita
Deixe seu comentário:
Vanessa Ristow
De repente, vejo a minha história sendo contada de uma forma tão fidedigna que eu mesma não seria capaz de expô-la com tanta riqueza de detalhes. Agora, você pode entender porque sempre disse que o seu olhar ia muito além do superficial; ele a leva aos lugares que esconde os mistérios da alma humana.
Edson Cogo
Você tem uma capacidade de chamar a atenção desde a primeira linha até a última. Uma reflexão poética sobre problemas da vida que parecem ficar mais amenos. Parabéns! Muito bom mesmo!
Thierry
Sensibilidade em palavras. Muito legal. Parabéns!
Regiane
Belo e profundo... Amei essa frase: "Quem abandona seus amores em prol de liberdade é porque nunca mereceu o amor."
Lafayete
Primeiro, é ficção ou aconteceu com vc? Gostei de tudo, principalmente do meio em diante. Sem dúvida, vc é mesmo talentosa. Parabéns. Tem um pequeno erro de digitação (eu acho) no trecho "Minha querida o é preciso ter coragem para ver além das aparências. " Penso que não tem o "o". E se me permite dizer, acho que deveria existir uma vÃrgula depois de "querida". Vc faz algo que não costumo fazer quando escrevo - quase sempre sobre polÃtica - que é o uso de frases curtas, com ponto final onde eu normalmente usaria vÃrgula. Como não sou do ramo, não sei explicar isso, mas achei diferente e gostei. Continue, sempre.
Cátia
BelÃssimo como sempre!
Monia
A visa é isso: uma plenitude de caras e bocas, altos e baixos, luzes, crises, tédios, mas sobretudo vida, amor, e amor. Parabéns pelas suas lindas e intermitentes palavras!
Everson Brugnolo
Tocante...
Alyne Czapiewski Soares
Completamente suspeita para falar, mas assim como uma excelente professora é uma ótima escritora! Falo isso com muita segurança, fã desde o primeiro livro ;) Todo o sucesso do mundo prof. mais lindaa!
ANNA PAULA CALMON DE PASSOS
BelÃssimo texto!! Fico muito orgulhosa dessa pessoa querida, amiga, verdadeira e acima de tudo, sensÃvel!! Beijos, Anna
Daiane Barbosa
"Nossos olhos lutam pelas conveniências e as vezes somos covardes por não ter a iniciativa de recomeçar..." Quem nunca teve medo de recomeçar?? O medo nos impede de sermos felizes, porque acreditamos em um falso mundo, uma falsa realidade com alguém que mal sabe o que é amar a si mesmo.... FANTÃSTICOOO!!!!