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O espelho que não te reflete
22 de dezembro de 2014

"Os verdadeiros suicidas da intelectualidade, não são os que desprezam com cinismo a literatura (e caminham em passos largos pra o abismo da ignorância), mas são aqueles que mesmo tendo uma vida devotada aos livros, revistas e jornais; tem preguiça de pensar."

Agnaldo Cavalcanti Matias.

 

Compadecida da escuridão das almas. Aquelas mais desprezíveis que circundam a existência humana. Penso no tempo que desperdiçam cuidando de uma vida alheia e inalcançável. O sucesso não se planta no fracasso alheio. Tampouco existe grande êxito quando a busca por uma vingança sem sentido faz da vida do possível inimigo um alvo permanente de ataques inúteis.

A sorte das conquistas nunca abençoará a alma rutilada. Quem produz malefícios – atrai para si e para seus filhos uma névoa de infelicidade e tristeza. Quem planta o mal colhe o mal. Sem data certa e sem convite para plateia. Fenece sozinho e sem o gosto da partilha. Que só os corações fiéis conhecem. Suas estradas não conhecem misericórdia e o afeto que nasce nas despedidas.

O interesse particular levado as consequências de desagregação. Marca inúmeros destinos. E essa é uma conta que sempre será cobrada. A confiança na impunidade pautada numa ascensão social questionável. Provoca um desdém crescente. Estender a mão deveria trazer consigo um sinal de verdade, mas por vezes funciona como um beijo de Judas antes do sábado de Aleluia...

O suave sabor da calúnia tornar-se-á um sangue amargo que contamina a alma. Quem planta e prolifera o mal nunca encontra permanente satisfação. Malignamente o adágio: “A boca do ambicioso só se enche com a terra da sepultura”. Ou seja - a vida abastada é uma quimera temporária. E sem efeito. Já que o sucesso e a felicidade “vizinha” são perturbadores permanentes.

Vislumbro em pensamento o cinismo dos comentários e a convicção das mentiras travestidas de verdades. O bom jogo das palavras que condena inocentes e absolve culpados como no livro de Franz Kafka: O Processo. Guindados pela falsa noção de suserania e vassalagem o valor pago ao final dos meses não é capaz de comprar quem eu fui e tampouco quem sou...

Na minha lúcida análise sobre o contexto – já passado – só um sentimento subsiste diante das minhas reflexões. O desprezo. Afinal quem não sabe cultivar boas flores não deveria pisotear o jardim semeado. Tenho pena de quem por amor a ignorância ataca a paz daqueles que desejam mudar o mundo. A paixão pela escuridão é um mal que habita corações incompetentes...

O pateticismo dos personagens repete histórias já contadas e recontadas na literatura. A relação medíocre com a protagonista causou infindáveis dores. Era preciso uma arquitetura maligna para promover uma “derrota” dos ideais inconfrontáveis. O que nessa altura dos acontecimentos só pode promover riso e uma profunda comiseração pela irônica atuação dessas almas infelizes...

Na minha trajetória nunca permiti que a corrupção fosse uma coadjuvante dos meus atos. O travesseiro que apoia meu sono é o meu fiel juiz no tramitar da vida. Os comportamentos pautados na covardia fazem ridículas as pessoas. A farsa e a insensatez não adentram minhas condutas pessoais e profissionais. Posso mudar segundo as relações sociais, mas minha honra não tem preço.

A mesma crueldade e perversão com que as pessoas atacam os meus singelos desejos faz com que a minha capacidade criativa encontre renascimentos e forças. Sou competente para encontrar a luz em qualquer forma de escuridão. Os desafios do tempo fortalecem a minha alma, pois sempre estive convicta de que estou condenada a felicidade e aos brindes das vitórias.

Quanto aos possíveis fracassos por certo eu também os colecionei. Afinal a mais linda das bicicletas promoveu também alguns tombos. Bem como as manobras mais ousadas levaram aos arranhões que viraram belas cicatrizes que eu exibo ainda com orgulho. A história da minha vida me faz vaidosa, pois nas entrelinhas o medo é só uma respirada para um novo passo frente aos abismos...

Eu sou e sempre serei uma personagem complexa. Nos meus olhos há infinitos e nas minhas palavras há um universo que nem sempre poderá ser desbravado. Gosto de observar os mesquinhos, os inférteis, pois com eles me distancio daquilo que não posso e tampouco quero ser. Um dia uma dessas almas me disse que sempre vai a Europa e eu penso de que serve a asa para a cobra...

Outros olhos tão similares ao mar que fitam os viventes como se pudesse afoga-los. Na exata medida em que suas pequenas benfazejas não restem satisfeitas. Um corpo bem vestido não representa uma boa alma. Eu nunca temi a falsidade, pois a maldade que vi em nosso encontro preliminar só cumpriu o caminho que já era esperando. Um porco não se acasala com um leão. Mas convivem...

O trâmite ainda passa pelo rastejante de grande porte. A criança mimada que vislumbra nos cargos a felicidade. O tolo que não caminha sozinho e se avizinha das sombras do sucesso que não o alcança. Criaturas dignas de pena e exauridas das minhas preces. Só rogo aos anjos aquilo que me inspira fé e não pelo que me suscita pena. Nunca poderíamos seguir eu sou luz e vocês barro.

Há outros e outras que nem sequer merecem transitar pelas minhas letras. Pois quem usa da amizade com os dirigentes para obter sucesso sem mérito não é digno de ser chamado de lixo. Visto que esse sempre pode ser reciclado. Almas pútridas não podem ser recicladas. O que é mal morre mal. E graças aos céus não são capazes de corromper todos os que são bons...

Fato é. O meu espelho não te reflete. Nenhum e nem cada um. Na minha história há muito mais para viver. E nem por um mísero segundo eu voltaria em cada palavra que eu disse e nem tampouco nas minhas ações. Na minha lápide futura já há uma frase certa que não passa pela canalhice de vocês. Afinal a pedra do fracasso sempre destrói a vidraça de quem atira. A minha brilha meus caros...

 

Taís Martins

Escritora, MsC, e professora.

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