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O preço da confiança
13 de agosto de 2013

 

"O amor comeu até os dias ainda não anunciados nas folhinhas. Comeu os minutos de adiantamento de meu relógio, os anos que as linhas de minha mão asseguravam. Comeu o futuro grande atleta, o futuro grande poeta. Comeu as futuras viagens em volta da terra, as futuras estantes em volta da sala. O amor comeu minha paz e minha guerra. Meu dia e minha noite. Meu inverno e meu verão. Comeu meu silêncio, minha dor de cabeça, meu medo da morte."

João Cabral de Melo Neto

 

Tenho um amigo que sempre me aconselha a dividir a vida com alguém. Um risco que não sei se estou disposta a correr. Afinal ao dividir quem sou. As fragilidades devem brotar. Hoje ao arrumar a casa me dei conta de algumas coisas perturbadoras. Na entrada da minha sala não há um porta retrato antigo. Nenhuma foto de relacionamento duradouro.

Onde estará a explicação coerente para tal fato. Seria talvez o meu apreço pelas mentiras afáveis e pelos amores sem nenhum brilho. Que me levam a dançar sem par certo. Pelos bailes que a vida me oferta. Num zás trás tenho amores eternos e seguidamente estou novamente sozinha com meus sapatos novos e meu vestido brilhante.

Tenho vontade de pertencer. Respirar alguém. Escrever coisas suaves enquanto me dedico a uma pessoa e não só as minhas fantasias. Mas temo pelo preço dessa escolha. Esquecer do meu trabalho. Deixar a minha caneta abandonada na caixa. Mudar meus modos sempre festivos quando em sala de aula... Quem deveria ser para ter alguém...

Meu semblante por vezes admirado fala muito pouco sobre mim. Afinal a beleza fenece com rapidez. Acalento uma alma similar aos grandes abismos. Feitos de pedras, águas e vento. Não encontrei um par disposto a afastar as pedras do caminho. Mergulhar nas minhas águas e a velejar por elas. Entendendo que posso ser muito mais do que fotografias e palavras.

O preço da confiança me induziu a adentrar histórias curiosas que de magia foram transfiguradas em maldições. Sobre a areia volúvel houve tantas promessas. Algumas foram competentes em confundir meus sentimentos. Noutras, porém a solidão foi o arrebalde dos meus temores.

Se o mais perto que posso chegar do amor são as desilusões. Pago o preço. Afinal a vida possui cores e sabores que ainda não experimentei. Por certo posso rir das minhas tragédias emocionais, pois aprendi com os gregos que no teatro a comédia e choro se confundem. E ladeando meus interlocutores vou escrevendo poemas de amor e de desilusão.

Os cortejos por vezes cansativos. A cada história encanto e desencanto acabam misturados. É como ter água pura e água contaminada na mesma nascente. Hora plena de vida e por vezes coroada pela insalubridade. Aquilo que não mais podemos sorver, consumir, sentir e manter. Um dia passado nos encheu de esperança, mas terminou consumindo nossas emoções.

Cada dor é uma cicatriz. Entre enlaces e dissabores. Somos conjugados como felizes ou desafortunados diante dos nossos engodos emocionais. Recalcitrante é o peito. Que não sucumbe a desistência. Na dor descobrimos a nossa força e nos erros surgem os aprendizados para as experiências vindouras – ainda sem classificação.

Certo é que não há nada absoluto. Tampouco a perfeição vigora nos relacionamentos. Mais importante do que desejar o outro é desejar a felicidade que o outro nos imprime. Reside aí o grande entrave, pois no meu caso em especial eu não procuro um final feliz, mas sim uma poesia intensa. Um verso escrito com carinho e afeto. Desprendido de métricas parnasianas.

A cadência do afeto demanda boas falas e nem sempre grandes afogos de pele. Acordar ao lado de um afeto pode ter um gosto mais duradouro do que dissipá-los entre lençóis. Tensão de pele é uma coisa especial, mas o afago nos cabelos pela manhã significa que partilhamos mais que beijos e sim planos de viagem com destino para um relacionamento feliz...

Trocar flores. Frequentar o cinema de mãos dadas. Planejar surpresas. Guardar um chocolate para o final da tarde. Recados nas gavetas e nos bolsos pela manhã. Pequenos afetos capazes de transformar um namoro em algo duradouro e feliz – independente das nomenclaturas. Afinal ter uma aliança nos dedos não significa felicidade eterna.

Tolo aquele que vê garantias contratuais através de um brilhante. Que nunca leu Shakespeare “dizendo que beijos não são contratos”. A garantia que temos da vida é a sequência dos dias de modo peremptório. Paradoxal, mas a única coisa permanente na vida são as mudanças. O afeto é o único combustível capaz de manter duas almas próximas durante o passar dos anos.

Namoros cheios de páginas fantasiosas. Noivados enganosos. Casamentos falidos. Romances dignos de páginas de jornal. Por vezes folhetim ou notícias polícias. Não posso dizer que não houve diversão na viagem. Há muitas lembranças na alma. Mas ser ombudsman durante uma existência é fadigoso.

Entre antíteses, antagonismos e contradições – o amor é uma necessidade. Requer sacrifícios. Amadurecimento e outras coisas que ainda não conheço. Afinal quando comecei a empreitada de falar sobre ao afeto entre duas pessoas. Em nenhum momento mencionei que conhecia o caminho dourado para o mundo de Alice ou para qualquer outro conto de fadas.

Toda mulher quer um príncipe. Sonha em ser princesa. Segue construindo castelos através de romances e desejos. Não importa o tempo. A cor dos olhos. A altura. A condição social. Procurar a felicidade demanda critérios subjetivos. Conhecer esses segredos poderia fazer de mim uma rica vendedora de sonhos. Ou uma feliz esposa. Quiçá...

Taís Martins

Escritora, MsC, e professora.

Contato:  taisprof@hotmail.com

               focuslife@playtac.com

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Os caminhos da imaginação pela Escrita

Deixe seu comentrio:

  • Tais Martins

    Cada palavra dos senhores é como a luz na sala dos meus pensamentos. obrigado.

  • wallace

    Segue o caminho da eterna poesia; pois a realidade, esta sempre ao seu alcance, olhe mais profundamente, não nos olhos, não na mente, não no espirito; mas sim na pedra de gelo, pois, quem sabe ela se derreta, e abre esse coração para o mundo, pois falar em sentimentos não é face não, e ainda coloca-los em rimas e prosas. Quem sabe o galanteador explicitado, esteja tão perto, mas longe dos seus pensamentos. Bjs e siga vitoriosa.

  • Almerinda Pianaro

    Bom dia, minha querida. Hoje li um trecho de suas poesias...adorei, parabéns e muito sucesso e vitórias em sua vida. Um forte abraço.