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O Susto
30 de setembro de 2014
Apesar de meu gato, o Sacudo, ser extremamente caseiro e medroso, ontem ele me pregou um baita de um susto. Já há oito anos comigo, ele pareceu ter desaparecido pela segunda vez. Cheguei em casa do trabalho e não vi o felino em lugar nenhum. Saí para ir à uma pizzaria e na volta, de novo: nada do Sacudo.
Uma semana antes havia recebido uma carta da síndica de meu condomínio. Nela, de forma bem indelicada, dizia que havia mal cheiro vindo do meu apartamento e de meu vizinho por causa de nossos gatos. Apesar de terem percebido, que na verdade, o mal cheiro vinha de um vazamento na garagem, ninguém se desculpou pelo mal entendido.
Um ano antes, morando ainda em outro conjunto residencial, outra gata minha desapareceu, após eu descobrir que alguns vizinhos estavam se incomodando com as fezes dela no jardim. Toda a situação tinha deixado claro, que alguém havia dado sumiço nela, que também já estava comigo há oito anos. Como eu não podia provar nada, me senti obrigada a engolir o absurdo.
Já habituada ao trauma de conhecer pessoas que não gostam de animais, não dormi quase nada, pensando sobre o paradeiro do bichinho. Exausta que estava, eu me remoía por dentro, pela maldade que certas pessoas carregam, através do desprezo que sentem em relação aos animais.
Virava de um lado para o outro e imaginava o Sacudo sendo jogado em uma estrada qualquer, passando fome, frio e medo. Afinal, o que um animal tão domesticado e indefeso como ele iria fazer fora de casa? Ele não sobreviveria.
Uma e meia da manhã, quando o silêncio finalmente chega à região onde moro, me levantei da cama e fui de novo chamar meu gato pelos arredores do condomínio. Estava frio e fiquei com medo. Não havia ninguém nas ruas e eu nunca tinha visto o meu bairro daquele jeito: com neblina, escuro e num silêncio de arrepiar a alma.
Sem sono e realmente aflita, eu andava de um lado para o outro, chamando o meu gato, enquanto a minha outra gata me seguia curiosa. Nada do Sacudo. Voltei pra cama quase que em vão. Sentia raiva e pensava em toda a briga que ia armar no dia seguinte, para recuperar meu gato.
Depois da noite mal dormida, fui checar para ver se o bicho havia voltado. E nada. Me arrumei e fui na recepção do prédio dar início a minha guerra. Falei com o porteiro e a zeladora sobre o ocorrido. Queria ver as câmeras do prédio, para saber quem havia sido o responsável pelo sumiço do Sacudo. Reclamei da carta. Contei do desaparecimento da minha outra gata. E estava pronta até mesmo para ir à polícia.
Então voltei ao meu apartamento, para pegar minha bolsa e ir ao trabalho. Abri um armário para pegar um livro. Lindo e lentamente sai o Sacudo de lá, se espreguiçando e bocejando, como se nada tivesse acontecido. Como se eu não o tivesse chamado várias vezes durante a madrugada, impedindo o meu merecido e tão necessário sono.
“Mas porque raios esse gato não deu um miau pelo menos? Desgraçado …”, eu disse. Logo em seguida o abraçando e o enchendo de mimos.
No fim, fui eu quem ficou com “o rabinho entre as pernas” ... Fui me desculpar com a portaria do prédio. E fui embora trabalhar.
Bocejando e pensando: “Gato preguiçoso, não se dá ao trabalho de dar um único miado...”.
CAROLINA VILA NOVA
ESCRITORA E ROTEIRISTA, de Curitiba.
Contato: focuslife@playtac.com
Bocejando e pensando: “Gato preguiçoso, não se dá ao trabalho de dar um único miado...”.
Os caminhos da imaginação pela Escrita
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Maria jose neto.
Carolina este famoso gatinho ainda é o que mt se fala no livro (Minha vida na Alemanha) que adora que falassem com ele kkkkkk o João adorou essa parte entre outras né mas a do gatinho foi demais !