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O velho chico
03 de outubro de 2013

 

            Desde o meu primeiro dia na empresa, reconheci num colega de trabalho aquele tipo de humor que me contagia. Uma pessoa que fala alto, com sorriso nos lábios e a segurança de quem sabe ser feliz sozinho. Conheço bem esse tipo de pessoa, porque confesso que me identifico. Dá pra ver no olhar a segurança e a alegria de sua própria autenticidade.

            Além do meu trabalho diário junto à diretoria, também fui contratada para ministrar aulas de inglês aos executivos da empresa. E lá estava ele entre os alunos: o Chico. A classe por si só já era uma comédia: um grupo de amigos de décadas, que tiram sarro um do outro sempre que podem e que não podem.

            Enquanto escrevo este texto posso escutar as risadas e as piadas do Chico. Entre um parágrafo e outro ele já veio me perguntar se podia me mandar uma foto de uma caipirinha de frutas vermelhas. Isso porque a provocação recíproca se tornou diária.

              Sabendo da minha paixão pelo Rio de Janeiro e também a minha “suposta” indignação por nunca ter sido requisitada para nenhuma viagem à cidade maravilhosa, o colega sempre que pode comenta sobre as suas regulares visitas ao local, bem como os detalhes: como a praia estava linda, como a caipirinha (minha bebida favorita) estava deliciosa, como Copacabana o deixou cansado e por aí vai.    

            Mas ao mesmo tempo chegou ao meu conhecimento um fato cômico ocorrido com ele: certa vez o Chico estava num lugar onde ocorreu um assalto. Ele, seguro e experiente, tentou conversar com o ladrão, que rapidamente respondeu: _” Cala a boca, velho!”. Pra que eu fui saber disso? ...

           Se num dia havia convites de feiras para o Rio de Janeiro sobre a minha mesa, sobre a dele havia propagandas de Casa de Repouso em Curitiba (mesmo ele não sendo realmente velho...). Todos os colegas à nossa volta riem das provocações diárias e sem razão. Na verdade, essas brincadeiras só fazem o ambiente de trabalho melhor do que já é. Pelo menos do meu ponto de vista.

           Recentemente, fui informada de que terei uma sala só pra mim. Sob protesto silencioso aceito meu futuro não mais tão alegre. Gosto de risadas, sons altos, barulho de gente ao meu redor. Um assobio, um cantarolar, até mesmo um diálogo distante. Gosto de gente. E gosto mais ainda de gente que brilha, que tem luz própria, que alegra o ambiente à sua volta.

           O Chico é ainda só um colega de trabalho no qual me identifico e me correspondo. Espero um dia chamá-lo de amigo. Independente disso, já me sinto agradecida pela oportunidade de sentir sua presença. Como a de tantos outros no ambiente maravilhoso em que atuo profissionalmente. Gosto de acreditar que fui eu quem atraí este trabalho para mim, pois aqui também sou uma voz alta que ri e que gosta de provocar o riso alheio.

          Hoje. este Chico faz parte da minha vida profissional, mas muitos outros passaram pelo meu caminho. E espero, muitos mais hão de passar. Porque o Chico não é só alguém com quem eu brinco e dou risada quase que diariamente, mas o Chico é dessas pessoas, que mesmo não sendo íntimas em nossas vidas, as tornam melhor. O sorriso que alegra um dia sem graça, a piada num momento propício, até um olhar de atenção que expressa um carinho.

            Muitas vezes, mesmo não havendo uma relação mais estreita ou de amizade, devemos ser gratos por esse tipo de pessoa à nossa volta. Isso se nós mesmos não agirmos dessa forma abençoada.

            Quem não é assim, que também não se lamente. Cada um tem algo de bom à oferecer. Eu tenho o meu sorriso. O Chico tem as suas piadas. Alguns tem um silencioso olhar, um sorriso discreto. Importante é entender o carinho que cada um doa. Receber e retribuir. Senão, não importa, muitos Chicos podem passar à nossa volta e nem sequer nos damos conta.

              Amor ao próximo também pode ser superficial e profundo ao mesmo tempo. Superficial na sua maneira de ser, no dia-a-dia, sem pretensão. Mas profundo no sentir e no dar valor, aumentando àquilo que mais precisamos em nossas vidas: o viver bem o cada dia! E viva o Chico! E viva eu! E todos os Chicos!

CAROLINA VILA NOVA

ESCRITORA E ROTEIRISTA, de Curitiba.

Contato: focuslife@playtac.com

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Deixe seu comentário:

  • Márcia Giberni

    Parabéns Carol, lindo fiquei emocionada, pois conheço esse Chico. bjs