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Oportunidade de trabalho
18 de janeiro de 2014
"A vantagem de ter péssima memória é divertir-se muitas vezes com as mesmas coisas boas como se fosse a primeira vez"
Um dia, precisamos de um pouco de álcool na corrente sanguínea. É só uma brincadeira para dizer que estamos transbordados dos nossos problemas e tudo quanto queríamos era uma um garrafa cheia de afeto que nos fizesse entornar em largos goles todas as nossas angústias e temores emocionais... Ou quiçá que pudéssemos confiar nas pessoas para as quais estendemos os braços um dia.
O tempo, senhor e proprietário das nossas incongruências, mostra que os laços afetivos são tênues e frágeis. De um vértice nossas crenças e apegos e dos outro lado os planos arquitetados pelos nossos “eficientes” amigos. Que ao sabor de seus desejos nos enredam e nos fazem colaborar com os seus ardis sem que possamos perceber os sintomas de concupiscência.
A lembrança daquele rapaz falante e de modos educados ainda permeia a minha memória. Recordo ainda da sua forma de agir, destacando as suas qualidades, mas também mencionando o desejo de construir uma família, pois estava ansioso por encontrar uma posição visto que estava noivo e em breve o matrimonio chegaria. E ele necessitava organizar a sua vida e a vida de sua futura esposa.
Enfim. Não havia aulas disponíveis naquele momento. O quadro docente já fechado e as disciplinas já divididas por carga horária. Afinal, no meu trabalho, sempre conduzi as coisas pelo princípio de deixar tudo em ordem de modo prévio para evitar dissabores. Trabalhar com Educação e com pessoas exige sempre um cuidado redobrado. Destaco isso quando elaborei a revista acadêmica e também nas milhares de palestras que coordenei.
Sem falar nas “fabulosas” visitas do MEC. Quanta correria... Vários episódios poderiam ser mencionados. O melhor deles (talvez) foi virar três dias de trabalho. Esquecendo família, filhos (um em casa e outro na barriga) para deixar as coisas milimétriamente em ordem, pois não conseguir o reconhecimento significaria um prejuízo para os alunos, para os docentes e para a Instituição que nos empregava.
E quem disse que o trabalho de um professor não é emocionante?. Quantas bancas de seleção de professores e alunos. Cada um com seu objetivo diverso, mas com a busca de uma satisfação que só cabia a cada um deles entender. O emprego dos sonhos e o início de uma carreira. Eu transitava nesses dois mundos e creio piamente que um dos meus maiores pecados foi deixar o coração conduzir muitas das minhas escolhas...
Quando voltei para casa naquele dia a imagem daquele rapaz com a sua camisa cuidadosamente escolhida para a entrevista permeava meus pensamentos. Eu imaginava que já estivera no lugar dele. Imaginava que um dia minha filha podia estar no lugar dele. E naquela noite esse pensamento rodopiou minhas pálpebras antes da vitória do cansaço sobre as emoções.
No dia seguinte, como de costume, cheguei cedo e fui analisar a grade horária e a grade de professores. E tudo estava em ordem. Todas as divisões feitas. E as classes já distribuídas. Mas sobre a minha mesa estava ainda o Curriculum daquele rapaz. E, imediatamente, pensei em quantos sonhos estavam depositados a sua fala do dia anterior. Mudar de cidade. De emprego e de estado civil.
E o impasse quase irresolúvel me acompanhou até o horário do almoço. Quando na companhia de uma amiga muito catita conversávamos alegremente (como sempre) sobre as aulas, a vida, os casamentos e num lusco-fusco a solução surgiu. Ela me dizia que eu precisava me organizar. Pois com a coordenação adjunta. A revista acadêmica. As orientações e bancas de monografia como eu assumiria mais as aulas de Introdução ao Direito?
Pronto. Num passe de mágica meu dilema estava resolvido. Faria uma banca com o rapaz da camisa listrada. E com o tempo ele assumiria novas aulas. Voltei imediatamente para a minha sala e convoquei a banca avaliadora e o candidato que apesar de nervoso foi aprovado para a disciplina. E no fundo meu coração estava alegre, pois sabia que aquela atitude contribuía de alguma forma para uma promissora carreira. Afinal, é preciso ter fé nas pessoas...
Ainda vi aquela camisa listrada em alguns dias de aula. Vi a mudança dos ternos e mais tarde a mudança de cargos. Fui ao casamento e brindei com os noivos. As histórias nos entrelaçam e mudam de cor. Algumas histórias fortalecem os vínculos e outros ficam esmaecidos. O fio condutor da vida nos apresenta partidas e chegadas. Tomamos cafés juntos dividimos projetos e a vida balançou nossas velas e o mar cintilou para cada um de modo diverso.
O que faz um bom amigo eu ainda não sei responder. É a necessidade? A lealdade? O tempo? A confiança? Há tantos requisitos objetivos e subjetivos para essa questão. Muitas vezes escolhemos um livro pela indicação de um amigo. Mas por outras confiamos na nossa intuição. Nem sempre ele nos leva ao desfecho esperado, mas é sempre uma nova história que vai participar da nossa própria história. Gostemos dela ou não.
Fagocitamos trechos de poemas. E nem sempre eles trazem em suas entrelinhas finais felizes. Por vezes naquele conto magnífico confiávamos muito em seus trechos. Porém ao final eles nos trouxeram desalento e amargura. Plagiando um pouco de Shakespeare: “um dia você aprende” que o final das histórias não dependem exclusivamente das suas mãos. E que ao fazer o que acha correto não significa que as pessoas ao seu redor pensem como você.
Eu gosto muito de rever as fotos dos meus amigos. Das pessoas que conviveram comigo. Além da nostalgia. Sinto uma imensa felicidade por ter participado de momentos e fases importantes da vida de cada um deles. Sei que as minhas palavras e atitudes podem ser traduzidas em muitos idiomas e formas. Mas uma coisa é certa. Nada pode ser corrompido através dos meus olhos, pois nas fotos e nas palavras eu sei o quanto de confiança havia em cada afeto meu.
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Taís Martins Escritora, MsC, e professora. Contato: taisprof@hotmail.com focuslife@playtac.com |
Os caminhos da imaginação pela Escrita
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Denise Maria Mendes
Ainda me lembro daquele primeiro dia de aula, quando ela adentrou à sala de aula, um brilho no olhar e um largo sorriso estampado no rosto. Ah, ela era especial, pensei comigo. Ao final da aula, ela nos brindou com um poema de Helena Kolody. Naquele momento ela deixou de ser apenas minha professora de Direito das Obrigaçöes para se tornar um fonte de inspiraçäo. E, certamente, ela fez a diferença ñao só para o jovem de camisa listrada, mas para muitos de nós que até hoje sorvemos de suas palavras. Nas entrelinhas de seus poemas, de seus contos e de suas crönicas há um universo de emoçöes, incabÃvel em qualquer sala de aula.
Gabriela
Minha pequena grande inspiração. Um talento em pessoa. Adorei, voltou com tudo em pequena ;) !!!!!