Playtac

"Qualquer um que tomasse o seu lugar seria um substituto fraco. Amo você, com um amor tão grande que simplesmente não pode continuar crescendo no coração, precisa saltar para fora e se revelar em toda magnitude."

Anne Frank

Encontros casuais... A delícia da efemeridade. Sabores tenazes e suaves. Trazem consigo a surpresa capaz de aplacar os temores. Quanta argúcia no encantamento e no desejo de corpos estranhos em busca de um jogo sem perdas e outros ganhos... O esteio do prazer é a medida necessária para que braços e pernas fizessem um balé particular na busca do arfar respiratório e do gozo ilimitado e sem tempo cronológico...

Mademoiselle segregou suas emoções e se permitiu possuir. A cada beijo na sua tez. Ela sentia o sangue fervilhar. Nesse êxtase Pierrot a possuiu como louco. Diante da insanidade alcançaram o ápice dos amantes curiosos. Desbravaram a pele um do outro. Nas bocas plenas de palavras de ordem, havia uma sede interminável. Quanto mais bebiam na fonte a sede aumentava significativamente...

Assim a noite terminou e surgiu o dia entre gemidos e sussurros. A língua de Pierrot desbravara cada partícula daquela estranha flor. Despetalada e perfumada. Os desejos irreveláveis de Mademoiselle avançavam e desapareciam diante da aceitação plena do jogo de sedução. Momento por momento a doçura e a tenacidade trocavam de posto. Nos olhos, um pedido mísero de eternidade efêmera. A carência contínua dos amantes afoitos.

Sem pressa Pierrot consumiu aquela carne branca. Conduzia suas mãos entre os cabelos longos daquela mulher. Não era capaz de compreender o perfume que residia naquelas partículas. Perfume esse que o deixava inquieto e ao mesmo tempo entorpecido. Mademoiselle por sua vez estava disposta a conduzir a sedução diante de todas as consequências. Afinal nada havia de mais encantador do que permitir que a fumaça do desejo esmaecesse...

Exaustos e felizes os corpos ficaram quietos na imensa cama branca e macia. Ela envolvida nos braços de seu amado. E o amado perdido no afeto de sua encantadora dama. A poesia estava no silêncio e no olhar de cumplicidade. O nascente tornou-se poente e eles ainda seguiam fitando um ao outro na eterna magia que acontece poucas vezes na existência. Palavras raras e confissões múltiplas num eco mais firme do que as grandes sinfonias.

O devaneio dos amantes se assemelhava a uma serpe veludosa encapelada em seu habitat. Mesmo que houvesse veneno para as defesas naquele instante elas não eram necessárias. O calor flamejante emanava do corpo dos amados e não da potencial vítima. Era assim a cena luminosa e delicada como o quadro dos fiéis enamorados. Vestidos ou desnudos eles eram cúmplices de suas mais angustiantes e prestimosas emoções.

O prelúdio nada místico da despedida se fazia presente. Para que a carne daqueles corpos novamente gozasse da saudade era preciso um tempo de distanciamento. Cada um deles saberia sobre a ausência e sobre a importância do abraço afável no reencontro.  A noite desconsolada já ia longe quando a roupa recaiu nos corpos e o beijo de despedida foi testemunhado pelas estrelas infinitas...

O glorioso troféu partilhado entre Mademoiselle e Pierrot não poderia agraciar outros amantes. A sedução e a ausência são cúmplices da dor e do desejo. Cada amante conhece nas transfigurações do tempo os seus piores e melhores sentimentos. Triste mesmo é a sina daqueles que não possuem o refúgio supremo do amor sem adagas. As lutas tem suas arenas e nas camas há então a merecida paz com o suave descanso...

Ainda mornos de encanto  e ansiosos por um reencontro de convulsiva paixão. Pierrot deixou a sua amada em seu castelo. Beijou-a como se fosse a última vez. Esperou o aceno final de Mademoiselle horizonte... Mesmo sabendo que não deveria procurá-la em breve... A partida e a chegada tardariam... mas no olhar do fantasioso amante eles poderiam aguardar a eternidade, afinal era aquela a rainha que ele escolhera para o seu conto de fadas pessoal...

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