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Pureza Proibida - parte I
17 de maio de 2014
PUREZA PROIBIDA foi o primeiro filme que eu produzi e interpretei. Havia recém criado a minha produtora ( ROSSANA GHESSA PROCUÇÕES CINEMATOGRAFICA LTDA) e me lembro da primeira reunião com o meu sócio Carlos Fonseca, um profissional da mais alta qualidade, sabia tudo de cinema.
Assinatura do contrato para Direção e interpretação.
Eu tinha recebido vários roteiros, feito uma primeira seleção e me chamou a atenção um nome: “ A BRANCA E O NEGRO “. Então, comecei a ler e não consegui parar. Era uma história de amor entre uma noviça e um pescador negro, adepto do Candomblé. Assim, chamamos a dona do argumento MONAH DELACY e pedimos que preparasse o roteiro.
Roteiro pronto, hora de contratar o diretor. O primeiro nome que me surgiu foi o de NELSON PEREIRA DOS SANTOS. Telefonei pra ele e contei a história resumida no telefone e ele me disse: Rossana você pode dirigir, filmar assim como acaba de me contar que eu assino. Claro que era uma brincadeira, na verdade ele estava ocupado com outro projeto e não poderia aceitar o meu convite. Foi aí que o Carlos Fonseca sugeriu o ALFREDO STARNHEIN.
Contratado o diretor , mais o diretor de fotografia RUI SANTOS , partimos para Cabo Frio, no RJ, para escolher as locações. Acabamos alugando duas casas em Arraial do Cabo onde ficou sendo a nossa base de produção. Decidimos que em uma casa ficariam as mulheres e na outra os homens. Para maior conforto da equipe, as refeições seriam feitas nessa casa onde seria montada toda a logística necessária para que as filmagens transcorressem em tranquilidade .
Iniciamos as filmagens e tudo estava transcorrendo na maior tranquilidade, não fosse a falta de profissionalismo de alguns elementos. No contrato de trabalho por tempo determinado que todos assinam, tem uma cláusula que diz: “ é terminantemente proibido consumir bebida alcoólica durante as filmagens”, mas tem pessoas que tem dificuldade em cumprir acordos de qualquer natureza.
Um belo dia, estávamos filmando na praia debaixo de um sol escaldante com um calor infernal e em um intervalo para ajustar a câmera, notei que uma determinada pessoa toda hora desaparecia no meio das moitas e demorava um pouquinho até que o Zózimo bulbu ( o ator que fazia o pescador) fosse também e dai a pouco voltavam os dois com a cara mais feliz da vida. E isto acontecia várias vezes por dia, até que movida pela curiosidade os segui e qual não foi a minha surpresa? Peguei os dois no flagra bebendo conhaque. Eles escondiam a garrafa na moita para que eu não percebesse. Passei uma "descompostura" em ambos que, claro, gerou o maior mal estar, principalmente porque o Zózimo, com raiva do meu esporro, incitou a equipe da pesada contra mim. Mas eu não podia me deixar dominar, então, durante o jantar, quando estava todo mundo reunido em volta da mesa , eu subi no meio da mesa para fazer o discurso mais curto de que se tem notícia, resumido no seguinte:
"Todos que estão aqui assinaram um contrato que leram e concordaram. Se alguém aqui presente se arrependeu e quer desistir que faça agora, não vou negar que preciso de vocês mas a recíproca é verdadeira. Vocês também precisam do trabalho aqui e ninguém está fazendo favor pra ninguém. " Conclusão: todos ficaram a meu favor. Somente o Zózimo que ficou com cara de bobo.
E, assim, continuamos as filmagens até o incidente seguinte. O CARLO MOSSY, que fazia um padre, no dia de folga da equipe, pegou o carro escondido de todo mundo e saiu voando para o Rio de Janeiro para a festa de aniversario da namorada. Quando se está apaixonado não se pensa em consequências, e é claro que devia estar correndo além da conta. Conclusão, no cruzamento na saída para a estrada rumo ao Rio, sofreu um acidente que o deixou todo engessado da cintura para baixo com as duas pernas separadas, completamente inerte, fora de combate. Foi um transtorno ter que readaptar roteiro para tirar o padre, mas felizmente eu contava com duas feras ALFREDO STENHEIM e CARLOS FONSECA que solucionaram o problema rapidamente e assim retomarmos as filmagens.
Mas, se estão pensando que tudo havia acabado....doce engano. Parece que os deuses da Sétima Arte resolveram testar todos os meus talentos principalmente os da capacidade de superação.
Quando tudo parecia estar transcorrendo na mais perfeita ordem, eis que o RUI SANTOS recebe um telefonema do Rio: A esposa dele acabara de se suicidar.
Tivemos que parar durante quatro dias para que o RUI pudesse tomar todas as providencias necessárias. Quando ele regressou , talvez para amenizar um pouco a dor da perda, e também para recuperar o tempo parado ( ele sabia o tamanho do prejuízo que significa um dia de filmagem parados ), começou a empurrar a equipe pra frente, quase que num frenesi.
Foi uma experiência incrível poder presenciar o carinho e a união de toda uma equipe como se fossem uma família. A RUTH DE SOUZA, grande dama do cinema nacional, antiga paixão de RUI SANTOS, foi de uma delicadeza maravilhosa. A MONAH DELACI, que faz a madre superiora, foi outra incansável no carinho e dedicação. Todos nos unimos em torno do RUI SANTOS para conforta-lo e não deixar que ele se entregasse a dor de se perder um ente querido ainda mais da forma trágica que foi. Mas ele era um homem forte e acima de tudo extremamente profissional.
Terminamos as filmagens, hora de montar o filme. Na época, isto era feito na moviola e o montador junto com o diretor ficavam o dia inteiro dentro de uma sala escura vendo e revendo cenas, cortando e separando em lupens. Já para a parte da dublagem, toda esta parte hoje não existe mais, a tecnologia e o computador deixaram esta parte no passado.
Depois vinha a parte da dublagem. Todo o elenco passava quase o dia todo dentro de um estúdio de som colocando a voz na imagem, e, às vezes era até divertido. Duravam quase dois meses fazendo isso. Aí vinha a parte de escolher a música.
RUI SANTOS era amigo do EDINO KRIGER, um gênio da musica, e fomos a casa dele, eu e o RUI e começamos a conversar sobre o filme. Ele me perguntou o que eu tinha imaginado como música, e eu respondi: "Penso em alguma coisa em oboé, uma melodia que nos momentos de alegria possa ser alegre mas nos momentos tristes se transforme em um lamento, e nas cenas de amor possa ser suave e ao mesmo tempo sensual". Ele entendeu a minha expectativa e fez uma música absolutamente maravilhosa.
Eu estou praticamente contando o passo a passo sobre o que era a produção de um filme nos anos 80. Bom, a Música aprovada, de volta ao estúdio para gravar a trilha sonora, que inclui também a trilha de ruídos. Depois de todas , juntava-se tudo num processo chamado Mixagem. Depois disso tudo pronto, vamos finalmente pensar na comercialização, e aí que entra o divulgador. O meu se chamava MAURIZIO CRUZ e sempre tinha idéias fantásticas. Na verdade, as tarefas eram bem distribuídas e cada um dava conta da sua parte com muita competência . (continua)
Rossana Ghessa Atriz e produtora de Cinema e Teatro Contato: focuslife@playtac.com |
Biografias, Histórias de vida de personalidades
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Rosemary do Carmo Rolim Diniz
Rossana, te parabenizo por sua garra e postura de liderança, pois, só assim acontece um belo trabalho, com respeito e dedicação. Parabéns. bj