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QUEM
05 de abril de 2013
By Taís Martins
Quem
Ontem encontrei um amigo do colegial. Que surpresa agradabilíssima, pois fizemos uma viagem de quase duas décadas em breves dez (10) minutos de conversa. Ele ficou muito surpreso quando o chamei pelo nome. Bem eu também acharia estranho que uma pessoa que a priori pareço não conhecer me chamasse pelo nome a queima roupa numa sexta-feira ensolarada.
Mas passado o susto inicial, ele se vira para mim e diz: você é loira! Rimos muito da situação, pois em 1900 e guaraná com tampa de rolha eu era uma pequena de cabelos negros e longos. Mas essa mocinha deu lugar a uma loura de cabelos curtos, afinal o tempo muda muitas coisas e nas mulheres as madeixas são o grande alvo!
Falamos de modo breve sobre o colégio e sobre a minha pouco saudosa professora de química que me disse que vestibular para mim era uma perda de tempo, pois eu não tinha grande capacidade. Pois é as pessoas desconhecem a força de seus julgamentos. Bem como ignoram a valor das pequenas flores que desabrocham apenas quando estão prontas.
O encontro de hoje propicia um avalanche emocional, pois num dado momento a pergunta que nos fizemos e que fazemos sempre tem sua pauta no fato de que não avaliamos quem somos. O quanto somos. E ao observar as escolhas que fizemos no correr do relógio e do calendário num momento nem sempre parecem corretas.
Meu colega ficou surpreso ao ver minha filha. Uma linda adolescente de cabelos negros – como eu fui um dia. E disse nossa você casou. E eu imediatamente disparei, pois é quem diria. Casei duas vezes e tenho mais um “petitico” que está em casa. E meu amigo novamente surpreso disse: você mãe? Que coisa impressionante.
E retomo o início da tessitura dessa reflexão. Quem? Quem sou eu? Pois na verdade a mulher que ele viu hoje não é a menina que estudava na sala 3A do Colégio Pedro Macedo. Ou seria justamente o contrário. Essa mulher de hoje é exatamente aquela menina inapagável e cheia de livros e de palavras nos corredores. Partilhando com os amigos a sua vida e seus sonhos!
Ser popular. Eu nem me lembrava disso. Que engraçado. Fiz teatro na escola. Lógico foi um fiasco magnânimo. Era uma época em que o consumo das drogas ganhava força e incentivados pelos nossos professores montamos uma campanha de conscientização. E como disse meu amigo eu “sempre” engajada não poderia deixar de divulgar e atuar.
Um mês de ensaios e bum veio o fatídico dia em que faríamos mais de 4 apresentações no salão nobre. Representávamos os jovens desajustados que irritam os pais e que encontram nas drogas a sua fuga para um modo melhor de vida. E havia uma cena em que eu acendia um cigarro... Logo eu...
Sem dúvida e com direito a uma boa dose de riso. Me recordo que não esqueci nenhuma das falas da peça, mas quando puxei a fumaça com gosto para mostrar a minha veia artística fui derrotada pela falta de prática com o maldito cigarro e comecei a tossir. O que me restou foi criar um texto paralelo e dizer: “essa porcaria tá até me fazendo mal”! Risos na plateia. Óbvio.
Essa história rendeu até o final do semestre. Mas de toda sorte o que me vem à lembrança não são exatamente os risos, mas sim o fato de que senti naquela menina a arte do improviso. Quanto mais meu amigo falava sobre a minha forma de ser a impressão que eu sentia era que me agradava ser quem eu era. E que esse “quem” do passado dá a diretriz de “quem” sou no presente.
Falamos ainda brevemente sobre a flor que cuidei durante dois anos. Sim. A flor já seca que ficava na bancada lateral da minha sala de aula. E que minha professora de química por capricho me disse: “cuide dessa planta, quantas forem as folhas que ela brotar será a sua nota no final do semestre...
Eu cuidei da planta. E antes que alguém pense. Naquela época não se falava de bullyng. Especialmente de um professor contra um aluno. O que eu conhecia e que segui foi algo chamado temor reverencial, pois eu sonhava tanto com a cadeira universitária que era capaz de lavar uma latrina para não ter problemas.
A luz do improviso e da sobrevivência me ensinaram lições valiosas naquele verão! Mas deixaram marcas também nas outras estações do ano. Pois a professora que minava minha liderança com meus colegas acabou por ganhar uma antipatia maior no mesmo diapasão de um respeito menor. Ao desconsiderar meu esforço e minha coragem.
Na verdade eu nem sabia o que era liderança negativa ou positiva. Eu sabia sonhar. Com meu uniforme amarelo carteiro. Com meus colegas inteligentíssimos que eu admirava tanto e que me esforçava por acompanhar. Adorava estudar como ainda hoje tenho prazer nisso. E a formatura foi um momento tão sublime que me emociono ainda em lembrar.
Vestida de azul com cabelos cheios de cachinhos (ainda bem que a moda passou!!) e com um sorriso nos lábios por ter vencido a matemática, a química e a física. Traumas da minha vida. E de ter sorvido magnificamente as aulas de história, artes, literatura e geografia. Sim quando viajei pelo mundo era aquela colegial que serviu de guia. Uma boa guia...
Desafios aparentemente ínfimos que nos fazem mais fortes que nos transformam em adultos, mas que ao mesmo tempo nos afastam das coisas tão singelas que fazem bem para a nossa alma. Colocamos mil objetivos profissionais e esquecemos quanto é bom telefonar para um colega para falar trivialidades...
O tempo nos consome e nos esquecemos de consumir o tempo. Meu amigo estava reticente ao dizer que não havia se casado e que não tinha filhos. E eu mencionei a ele que fiz tantas coisas ao mesmo tempo e ainda sinto a impressão de que ainda falta tanto por fazer. Falamos dos amigos que não vemos mais e o que será feito deles?.
Quem casou. Quem não casou. Quem foi para a faculdade. Quem desistiu... Bem. Dos outros companheiros de classe eu penso em descobrir aos pouco e quiça reencontrá-los um dia. Mas ao ouvir meu colega dizendo se eu ainda carregava muitos livros. Se eu continuava falando bastante e sempre engajada. Eu olhei para a minha filha que estava comigo e sorri feliz.
Eu superei o tempo e mantive a menina de uniforme no coração. Sigo carregando meus livros. Agora não mais de português, literatura e história. Mas os livros de direito civil para ministrar minhas aulas. E muitos livros de literatura para abençoar os livros que ouso escrever. Continuo sonhando e falando e partilhando. Até fui Jocasta no teatro! Minha arte é o improviso! Isso indica “QUEM” eu sou.
Taís Martins
Escritora, MsC, e professora.
Contato: taisprof@hotmail.com
Os caminhos da imaginação pela Escrita
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Ronaldo dos Santo Costa
Leitura agradabilÃssima, como sempre! Tais Martins e seus textos geniais! Abraços!
Leonice Lacerda Lima
Como sempre é bom ler as suas histórias, pois nelas sempre me encontro, sempre tem algo que me faz lembrar do passado, continue nesta sua jornada, com amor e tamanha dedicação. Parabéns mais uma vez. Sua amiga de sempre.
J. A. Garcia
Dizer o que... se tudo se pode dizer não traduz a beleza do que se sente na alma quando se tem pessoas como você a nos encantar com os seus contos! Parabéns, mas pega leve... não judia... BJS
Cátia Skittberg Cogo
PROFESSORA, ESCRITORA, SONHADORA... Em cada poema um pouco da sua história, lindamente escrita! Parabéns!
Maria Cristina Medina Casagrande
A cada dia mais me surpreendo com essa guerreira, que consegue colocar seus sentimentos e emoções em palavras! Grande TaÃs, sempre presente!
José MaurÃcio Pinto de Almeida
Adoro o estilo de TaÃs Martins. Escritora, poetisa, cronista e jurista de muito talento! Boa semana!!!!! Parabéns!!!!!!!!!!
Su-Ellen
Nossa...professora pouco amistosa? Direia que é uma pessoa com pouco amor no coração e fazia o que fazia apenas para tentar tampar um buraco, que certamente não cumpriu. Não tinha fé em si própria, como ter fé em seus alunos!!!! Sorte esta que difere da minha, que tive e tenho, uma professora que incentiva e almeja nosso sucesso, por nós e por ela, que será também vencedora através de nossas ações!!
Amanda Figueira
Mulher virtuosa, de grandes conhecimentos e de uma capacidade extraordinária. Leia suas obras, garanto que vale a pena. Um abraço!!!
Fabiano Melo
Tive o prazer de ser o "personagem" desta história fantástica, no caso, a amigo, abismado pelo reencontro com a amiga e escrito Tais Martins....Mágico e adequadamente narrado no texto acima...Muito obrigado minha amiga, tremenda honra, de coraçao.bjs
REBECA FERNANDES ROCHA PAIVA
Gente que orgulho dessa minha amiga, linda, inteligente e competente, isso é pra poucos, parabéns sua linda, vc é tudo de bom. To me achando por ser sua amiga.
Carlos Roberto Claro
Recomendo as obras da nossa escritora TaÃs Martins. Trata-se de pessoa com grande sensibilidade e que traduz para o papel aquilo que nem sempre conseguimos expressar. Boa sorte!
Vanessa Ristow
O gostoso de viver neste Planeta tão imenso, é que ele não é tão imenso assim. Deixamos em cada local que passamos as nossas marcas, algumas maiores outras menores, porém o registro delas existe e um dia... elas retornam a nós de formas mais variadas. Um olhar (acho que te conheço de algum lugar), um aceno, um cumprimento (tÃmido), um sorriso, um amigo. Pronto fizemos a nossa parte. Não só passamos por aqui, mas vivemos aqui!!!
Marcelo de Araujo Cordeiro Moreira
kkkkkkkkkkkkkkkk...Eu até imagino, pois qdo te reencontrei não foi diferente...Você até falou pra uma aluna, eu era apaixonada por ele e ele nem me dava bola...Hoje ele que paga o preço...Mas são as coisas da life né...Um dia depois do outro e segue a vida...
Marcia Jakeline
Fiz uma breve viagem ao meu tempo de colégio...Um texto perfeito!