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SANIDADE À BEIRA DO ABISMO
26 de agosto de 2013
"O ciúme é um monstro que zomba da carne que consome."
William Shakespeare.
Passei o dia pensando nos relacionamentos transitórios da minha vida. Nas coisas que senti e naquelas que imaginava verdadeiras. Confesso que um abalo emocional forte sobrepujou minha alma. Concluí que sempre estive errada. Afinal depositei minha confiança no olhar e nas palavras sem desvendar de imediato o que havia de verdadeiro no coração.
Sou uma romântica escondida nos meus livros. Uma menina cheia de anseios escondida numa mulher que só cuidou dos seus planos profissionais e da família. Conheci a falência emocional em dois divórcios e outros noivados duvidosos. Insistente por natureza. Continuei buscando aquilo que os livros ensinaram na infância... Buscava o príncipe encantado.
Meu tempo passou e só cuidei dos outros sem cuidar verdadeiramente de mim... Penso e ainda sonho com coisas bobas. Como sorvete ou café no final da tarde. Finais de semana cheios de carinho e de conversas fugazes. Imagino que quem tem afetos especiais matem lugares especiais. Datas importantes. Pequenas surpresas sem datas marcadas.
Passei a vida procurando um príncipe encantado. Mesmo com todos os homens estúpidos que cruzaram meu caminho. Há inúmeros medos no meu coração. Encontradas no mesmo esteio de amarguras nas minhas lembranças. Creio que talvez seja tarde para as coisas que sonhei. Concluo que hoje há mais medo do que anseios na minha alma opaca e sem brilho.
Erroneamente pedimos para que nossos pseudo-amores nos entendam... Por vezes nem eu me entendo. Em verdade minha sanidade merece mesmo questionamento, pois chorei até exaurir a respiração por pessoas que não valeriam um minuto de dor. Lamentei amores que nunca existiram e amigos capazes de trair a confiança de uma vida inteira.
Eu amei e não fui amada. Quem sabe quando fui amada sequer soube perceber isso. A cegueira ocorre diante das intempéries da vida. Como devo avaliar meu comportamento diante de tantos começos relativamente felizes e finais que replicaram tantas marcas que por vezes impedem recomeços que poderiam ser então felizes.
Há uma tormenta na minha metade emocional. Agunizada pelo tobogã emocional que sempre vivi. Permito que as pessoas entrem na minha vida. Ouço-as. Dou crédito aos seus mistérios e quando desperto minha casa está vazia. Tudo o que fora construído é levado sem nenhum pudor e fico absorvida pelo que deveria ter feito e pelo que devo então fazer...
Outrossim, quando leio meus romances e poesias favoritas tudo está em perfeito equilíbrio. Casamentos duradouros. Romances repletos de profundidade. Amores que duram pouco tempo, mas que perpetuam felicidade para sempre. Uma ou outra vez - o que se vê é o poema Quadrilha de Drumond que falava dos encontros, desencontros e reencontros.
“João amava Teresa que amava Raimundo que amava Maria que amava Joaquim que amava Lili que não amava ninguém. João foi para os Estados Unidos, Teresa para o convento, Raimundo morreu de desastre, Maria ficou para tia, Joaquim suicidou-se e Lili casou com J. Pinto Fernandes que não tinha entrado na história”.
Procurando meticulosamente pelos finais que desejados, deixamos de suspirar a felicidade momentânea. Valoramos o que ainda não nos pertence. Abandonando a efeméride das tardes de verão. Nos dias ensolarados onde a felicidade adentra a pele. Imaginando que sem abraços e beijos nem as tardes cheias de sol teriam a mesma graça...
Escrevendo meus sentimentos reconheço outras histórias. Encontradas e desencontradas com as minhas. Nas palavras que não revelo. Reconheço silente os meus fracassos emocionais. Bem como meus anseios ainda apaixonados e pueris. Pensava escolher a quem amar. Quando na verdade fui escolhida por pessoas incapazes de me amar como eu sou.
Noutras vezes, assumo o erro infame de não ter correspondido pessoas quem mereciam uma oportunidade afetiva. De toda sorte quando falamos de amor ou da perspectiva dele estamos muito longe de um cálculo matemático. Onde um mais um somam dois felizes. Na verdade nas variações filosóficas e psicológicas teríamos resultados infindáveis.
Preciso ficar em silêncio. Fugir desse caos para retomar o fôlego. Penso como gostaria de ser amada, entendida. Ser feliz. Estou sentada na beira do abismo escolhendo entre a sanidade e assunção da loucura. Há no meu armário uma montanha de coisas irresolúveis. Afinal podemos rasgar as fotos. Devolver presentes, mas é impossível apagar o passado.
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Taís Martins Escritora, MsC, e professora. Contato: taisprof@hotmail.com focuslife@playtac.com |
Os caminhos da imaginação pela Escrita
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Tais Martins
agradeço com um afeto interminável cada palavras dos senhores. bjs carinhosos.
Marcelus
Cara Tais, Ótimo Texto. Feliz em le-lo e, respirar a visão explÃcita e, ampla como inteligente de uma vida ! ! Entretanto, nunca esqueça-se da especialÃssima pessoa a qual você é - e, tornou-se! Jamais esqueça-se que os que não souberam partilhar o que você é o fizeram por não se-lo; - você!, continua a se-lo e, o será sempre na presença de alguém | cuja também explÃcita maturidade, possa forma ´ uma vida de maiores pessoas ! ! ´
Denise maria mendes
Ainda que sua alma seja capaz de entender seus desencontros é sempre o coração que sangra, ferido de morte, até mesmo o desta poetisa, que se desnuda na sua paradoxal fragilidade. Talves hajam novos abismos à inspirar sua quase insana poesia.
Eudes Moraes
Li num só folego. Você foi feliz no texto porque expressa a experiência da maioria. Eu me identifiquei nele. Não se sinta só. Sabe quando é que cessaremos as buscas e encontraremos o que buscamos? Nunca, a não ser que nos contentemos com as fraudes que têm nos buscado (Você escreveu isso em tiro certeiro). E não se iluda, a maioria dos casais que aparentam ter encontrado o seu par, se enganam. Se a presidentA assinar um decreto permitindo que todos saiam de seus casamentos e troquem por quem desejar, estará instituindo a maior sacanagem da história. Os temerosos ficarão. Parabéns pelo brilhante texto. Ele é você, eu e todos os que tiverem a coragem de ser. Beijo do amigo de sempre, Eudes Moraes - seu colega de letras.