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Texto engasgado
21 de novembro de 2014

"Tratar bem a um desafeto não é ser superior nem educado: Isto é ser falso. E a falsidade me enoja. Prefiro um desafeto que me acerte um soco do que um desafeto que me oferece um sorriso: o primeiro é uma pessoa com convicções, o segundo é uma pessoa perigosa".

Augusto Branco.

 

Há incontáveis pensamentos soltos na cabeça. Por vezes derramá-los no papel requer uma ordem incrédula das dores que vivemos. E nem sempre somos capazes de relatar. A angústia ocupa nossas células e invade nosso organismo como um vírus assolador. Os desejos acalentados na alma nos perseguem como um assunto incessante e desafiador. A brisa da varanda permite vagar pelo universo da vida que ansiamos sentir...

A vida é carregada de antagonismos. Buscamos o crescimento pessoal e abandonamos o coração. A ordem das importâncias resta invertida. Alguns seguem como bons profissionais e péssimos amantes. Há corações desagregados diante dos “ontens” sonhados e dos “hojes” construídos. No interregnum dos aprendizados é sábio não desperdiçar olhares com as almas escuras e mesquinhas. Descobrimos tardiamente a valia das verdades...

O amor não foi feito para a minha medida. Penso que as pessoas tem facilidade para dizer eu te amo, mas nenhuma habilidade para amar. Encaminham beijos e abraços pelas redes sociais. No entanto são incapazes de um aperto de mão desprovido de segundas intenções. Minha alma é forte e meu coração está reservado para poucas pessoas. A gentileza é um bom artifício para lidar com espíritos medíocres.

Em tempos modernos imaginamos ser possível medir os sentimentos pelo número de recados no Watts up. Pelas simpáticas mensagens no Facebook ou no Google+. Evoluímos na tecnologia, mas as angústias ainda são as mesmas dos telegramas e das cartas que demoravam meses para chegar. E algumas nunca chegam, pois existe um abismo de coragem para escrevê-las. Aduzido a isso o desejo de tornar público o que não é feito na vida privada.

Alguns escolhem cuidadosamente as palavras e derramam dores agudas em redes sociais. Outrossim qual das faces é verdadeira? A felicidade das fotografias escolhidas. Ou as mensagens repletas de desabafos? Reais ou não as palavras de escritores meticulosamente escolhidos para retratar abismos pessoais... As melhores fotos não são capazes de substituir eternos momentos. Do adeus só há a lembrança e pedaços irreconhecíveis de imagens...

Já escrevi sobre o assunto em outros momentos, mas decidi retomar o tema. Observei quantos sentimentos desnecessários agregamos através de uma foto, diante de palavras ou frente aos pseudosilêncios. As mensagens cifradas e as indiretas em pálidos idiomas -  que nada dizem - e propalam a verdade com a podridão da alma. Roupas bonitas não fazem um caráter melhor. Alguns canalhas exibem nas vestes a novidade que não se cria na alma...

O caráter das pessoas nem sempre está sub judice, mas pode ser avaliado em todo e qualquer tempo. O julgamento mais infiel é aquele pautado nas atitudes pessoais. Quem burla as normas costuma acreditar que é injustiçado. Muitas vezes o matador entende que ceifar uma vida é o seu destino e seu direito. No mesmo esteio quem atira uma mentira contra outra pessoa é capaz de qualquer conduta para obter seus propósitos. Não há crime menor. Há crime.

 

Nas horas indecisas da vida os pensamentos restam vagos. Perdida entre a noite que se inicia e o amanhecer que se avizinha. Persigo reflexões sobre erros e acertos. Sobre ações e omissões. Acabo convicta de que faço o meu melhor. Emoções profundas como os oceanos. Adentro os mares do temor e do medo e sigo renascendo depois dos inúmeros afogamentos. Congrego da coragem necessária para tomar decisões e do caráter firme para mantê-las.

Os acontecimentos diários são desafios. A realidade é o meu texto favorito. Observo de maneira meticulosa os jogos de poder. Analiso as forças medíocres disfarçadas de pequenos favores. Vislumbro o caráter fugaz das almas que supostamente imaginam ser melhores do que as outras. Transito entre mundos próximos e distantes ao meu. Há lugares em que mesmo sendo convidada prefiro não adentrar.

Escolho cautelosamente as pessoas do meu convívio. Transitórias ou permanentes eu as sorvo e com elas divido coisas boas e más. Para ter laços duradouros é preciso honestidade – uma característica tão rara nos tempos modernos. Como mencionava Shakespeare em seus escritos: “O diabo pode citar as Escrituras quando isso lhe convém”. Com o passar dos anos tenho adestrado o espírito para observar mais e falar pouco...

Na colagem do álbum da existência há rostos insignificantes que com o tempo se apagam. Outros que mudam de poses, mas seguem fiéis ao nosso lado. Sou apreciadora dos vínculos pautados no respeito e na admiração. O que é transitório ganha a vertente da utilidade. Observo os amigos e os inimigos, mas sempre tomo as devidas precauções contra os falsos-amigos... Afinal quem constrói embarcações pífias gosta mesmo é de reclamar da força do mar...

 

Taís Martins

Escritora, MsC, e professora.

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