Playtac

Focuslife

Colunistas

Home / Focuslife / COLUNISTAS Voltar

Valores voláteis
15 de março de 2014

 

 "Diga-lhes que esta vida não cessou de me maravilhar."

Ludwig Wittgenstein.

A velocidade da informação retirou algumas coisas singelas, porém emocionantes, dos nossos amanheceres dominicais. Explicava de modo singelo o questionamento da minha filha (com 17 anos de idade) sobre a graça de assistir a fórmula 1. Dizia ela em tom pejorativo: “que graça pode haver nisso mãe?”

Repentinamente, eu me vi pequenina no colo da minha mãe ansiosa para assistir aqueles carrinhos bacanas cortando as curvas dos grandes autódromos. Ver Nelson Piquet, Ayrton Senna, Alain Prost, Nigel Mansell – todos na posição de gladiadores com suas bigas magníficas colocando à prova as suas competências e não exclusivamente de tecnologia de suas máquinas.

Cada grande prêmio. As lutas dentro e fora da pista. Os egos, as equipes, os engenheiros e os pilotos numa somatória de detalhes que podia culminar com um pódio ou com a taça do campeonato de construtores. Fracasso era não poder competir. E quando chovia já dávamos como certa a vitória do Senna. Comemorávamos com orgulho o hino e a bandeira.

Desde a primeira corrida de destaque capitaneada por de Ayrton Senna na Fórmula 1, no GP de Mônaco de 1984, o francês Alain Prost foi seu maior adversário. O brasileiro novato e desconhecido, a bordo da Toleman - surpreendeu a todos - sob chuva, foi ultrapassando os outros pilotos e estava prestes a superar o francês da McLaren quando a prova foi suspensa.

Senna em 1984

O titulo mundial só viria em 1988 e contra Prost no Japão numa corrida espetacular, mas ambos eram então pilotos da McLaren. Esse duelo e tantos outros que se seguiram até a morte de Senna, mas sem suas disputas diretas que cederam lugar aos novos adversários, pois Mansell e Schumacher assumiram as disputas que duraram até os anos 90.

Não sou e nunca serei uma expert sobre fórmula 1 e grandes GPs, mas essa era a graça. Conjugar a admiração e a curiosidade sobre os carros mais ou menos potentes. Observar as peripécias dos pilotos com ou sem chuva. Sem esquecer as entrevistas sempre cheias de mal humor de Nelson Piquet. Sempre reclamando de alguma coisas dentro ou fora das pistas.

Quando os holofotes das vitórias brasileiras foram aplacadas. Restou a habilidade de um certo alemão que venceu incontáveis corridas primeiro na Beneton e depois na Ferrari. O que ainda será considerada a melhor corrida e o maior duelo da F1 foi interrompida na curva Tamburello. Onde os dois melhores pilotos com equipamentos equivalentes mostravam vontade de vencer.

A batida fatal interrompeu prematuramente o fabuloso duelo e retirou dos pódios a bandeira brasileira que pouquíssimas vezes teve a mesma notoriedade. Schumacher venceu esse e inúmeros outros campeonatos restando o desafio para os jovens pilotos a sobreposição sobre suas polis e vitórias.

Senna e o novato de então Schumacher

Os carros evoluíram, as regras foram modificadas pilotos que eu não assisti aos domingos como Juan-Manoel Fangio, Alberto Ascari e Emerson Fitipaldi cederam seus postos para Mika Hakkinenm, Fernando Alonso e Sebastian Vettel. Cada um deixou a sua marca nas lembranças de seus admiradores e seus nomes nos anais da história automobilística.

Já não assisto os Gp’s com o mesmo interesse. Pois a poesia dos carros e o ronco dos motores ganham um contorno financeiro muito forte. Pilotos investidores – que correm sem a raça e vontade já assistidos noutros tempos. Os carros com tecnologias abissais transferem aos engenheiros a responsabilidades pelos milésimos de segundo entre uma poli e a terceira fileira.

Os milésimos de segundo fazem novos campeões e outros derrotados. Como eu expliquei para minha amada filha. Os tempos mudam e com ele as paixões também podem ganhar outros esteios. O futebol não ganhou meu coração seja taça libertadores ou taça presidiários como costumo brincar. Sejam campeonatos nacionais ou mundiais eu não sou uma fanática do gol.

Gostava de dirigir o carro – lógico que sem a chave e devidamente fiscalizada. Fazer o ronco dos motores com a boca. Ouvir a narrativa das ultrapassagens, imaginar as bandeiradas e o brinde final com aquelas champagnes imensas. No meu caso infantil naquela ocasião mesmo que fosse um guaraná a comemoração seria esplêndida.

Bem depois dos 20 anos, com emoções mais maduras – imaginava eu –  dirigi um kart. Ao vestir o uniforme e colocar a balaclava, minha alma voltou aos domingos. Mesmo sem a transmissão televisiva e o glamour daquele momento imaginava o dia em que uma mulher poderia ser a grande campeã na super categoria automobilística.

Hoje, prefiro os desafios das corridas de Tiago Camilo, Cacá Bueno, Allan Kodair, Chico Serra entre outros atletas de Stock Car. A diferença na potência e agilidade dos carros faz surgir às habilidades dos pilotos. Assistindo os grandes pegas e as rivalidades vejo que a F1 moderna já não é a mesma – pelo menos para os meus olhos.

Conversar com a minha pequenina sobre a passagem do tempo trouxe inúmeras emoções que por mais tolas que pareçam mostram a passagem da vida. Um dia nossos desejos ocupam nossos quartos e noutros quiçá uma sala de reunião. As preferências podem seguir por toda a vida ou quem sabe mudar com as multipossibilidades ofertadas.

Eu ainda não gosto de futebol. Como eu disse anteriormente, mas quem sabe. Quando o meu pequenino - hoje com cinco anos de idade - convidar a mamãe para ver o "timinho" da várzea. É bem possível que eu esteja separando uniforme, meião e lanchinho para um bando de moleques com os mais variados penteados e com eles gritando gol ou xingando o juiz.

Da mesma forma que muitas vezes minha mesa está plena de adolescentes birutas - com 17 anos ou mais - que discutem política como especialistas e criticam as etapas históricas como quem esteve presente. Eles nem gostam de corridas de carro como eu um dia gostei. O prazer está numa crítica como forma de protesto e necessidade de protestar.

Por sua vez ao contar sobre aquilo que vejo e confrontar com o gosto dos meus pequenos vejo que a partilha é especial. Nem eu sabia das saudades dos grandes Gp’s dominicais. Não havia me dado conta do apreço pela nova Stock Car. Porém uma coisa é certa e irrefutável o amor pelos meus filhos só muda num sentido: como eu os admiro e amo cada dia mais.

Taís Martins

Escritora, MsC, e professora.

Contato:  taisprof@hotmail.com      focuslife@playtac.com

SIGA 

LITERATURA e POESIA
Os caminhos da imaginação pela Escrita

Deixe seu comentário:

  • Tais Martins

    Jose Domingos aguardarei a prosa. Obrigado pelo carinho. Bjss

  • Tais Martins

    Obrigado Helio... agradeço o fato de ter nas suas palavras o entendimento dos meus escritos. bjss

  • HELIO OLEGARIO DA SILVA

    ...Quando me dei conta, já estava de carona nesse cockpit, sentindo a mesma nostalgia...

  • JOSE DOMINGOS FERRAZ

    Suas palavras são suave, como o vento no fim de tarde embaixo ou sentado em uma arvore, mas hoje meu amor, não vou poder me aprofundar muito porque conheço muito a vida desse cara da foto, que não é nada do que a midia fala. Mas em breve te conto tudo pessoalmente; deixando claro que voce é brilhante sempre! Beijos.